A despeito do duradouro desinteresse pela seleção brasileira, resolvi assistir a este jogo contra o Japão imbuído do espírito característico do torcedor inocente: confiança, alegria e a crença de que o Brasil tem, sim, o maior e melhor time de futebol do planeta.
Entenda torcedor inocente aquele que não acompanha diariamente o universo futebolístico, portanto desconhece (ou conhece muito pouco, quase nada) os escândalos de corrupção na FIFA e na CBF, as especulações em torno das convocações de jogadores influenciadas por empresários, as obras absurdas e faraônicas nos estádios da Copa do Mundo, além da maior realização de amistosos do Brasil fora do país, distanciando ainda mais a seleção do povo. Sem contar o futebol desinteressante praticado pelo escrete canarinho há um bom tempo, desde o comando de Mano Menezes.
O torcedor inocente, portanto, se coloca de fora da rotina da seleção brasileira, só aparecendo nos dias de jogos e principalmente na Copa do Mundo, quando veste a camisa, pinta o rosto, sacode a bandeira mas não consegue citar cinco jogadores do time titular. É uma paixão quase infantil, bonita, realmente inocente. Pois bem, já venho tentando deixar os problemas de lado e incorporar esse espírito desde a contratação de Felipão, mas ele só pode aparecer timidamente no amistoso contra a França, pois foi o único que consegui assistir inteiro desde o retorno do comandante do penta.
Quando o gaúcho Luiz Felipe Scolari foi contratado, li e ouvi muitas críticas a respeito de seu recente trabalho no Palmeiras e que ele ia na contramão da proposta de "renovação" tão falada pelo comando da CBF. Mas deixei os críticos de lado e resolvi acreditar que Felipão seria como um super-herói, destinado a reconduzir uma combalida seleção brasileira ao status de maior e melhor time de futebol do planeta, tal qual em 2002.
Pois bem, vieram os amistosos, críticas e mais críticas, até que jogamos muito bem contra a França e a confiança no time voltou, mesmo que discretamente. Enquanto muitos preferiam dizer que a França já não era mais o grande time de outrora, ou que apesar do placar de 3 a 0 apresentamos muitas falhas, segui o senso comum de que uma goleada é uma goleada, e que vamos com tudo para a Copa das Confederações, pois quando o jogo vale de verdade, nossa camisa vira uma armadura do Homem de Ferro, nossos jogadores ganham a força do Hulk e ninguém é capaz de superar a gente. Há muito tempo não torcia assim pela Seleção, e a sensação é deliciosa.
Tão deliciosa quanto gritar "golaço" depois do chute de Neymar acertar o ângulo de Kawashima. Brasil 1 a 0, e vamos para cima, que o jogo é de campeonato e o Japão não é páreo para a gente! O placar de 3 a 0 ao fim do jogo reflete nossa superioridade, cala a boa de críticos e aumenta o interesse do povo para a próxima partida, contra o México.
Ah, o México, um adversário muito mais difícil, que ganhou da gente nos últimos jogos, ganhou o sonhado ouro olímpico da gente em Londres...não vai ser fácil.
Bobagem! Nós somos o Brasil, e vamos com tudo para cima de todos os adversários, pois somos o único país pentacampeão mundial!
Nunca foi tão bom deixar a razão de lado e se fazer um pouquinho de ignorante, inocente.